quarta-feira, 28 de abril de 2010

"É só o medo, meu bem."




“É só o medo, meu bem”

Certa vez pronunciei isso. E foi deveras uma das frases mais marcantes da minha vida, que fala de algo tão intrínseco ao humano que chego a me assustar. Assustar-me ao perceber que ele – o medo – permeia nossa maneira de viver de tal forma que quase acabamos aprisionados por ele. O que pode nos impedir de tentar, tentar, tentar até achar a tal felicidade que insistentemente buscamos em algum lugar...

Eu tenho dois pacientes com diagnóstico de “Síndrome do Pânico”. Repito: diagnóstico, o que lhes confere a triste realidade de terem um rótulo que lhes absorve e os paralisa. De forma bem simples, é como se o pânico fosse o guidom da bicicleta, direcionando seus pensamentos e ações. E, na maioria das vezes, o guidom pára. Fica estático. Travado. E, quando isso acontece, só vem a sensação de que o fim está próximo. É assim que meus pacientes se sentem: eles têm medo do fim...

Um deles, quando questionado “de que você tem medo?”, respondeu-me prontamente: “tenho medo de sentir medo”. Estaria ele falando das nossas eternas tentativas em nos prevenirmos daquilo que nos machuca? Estaria ele imaginando estratégias para se proteger daquilo que lhe oferece algum risco? Estaria ele revivendo a sensação de solidão?

Eu não sei... Tentei interpretar seu olhar. Mas só encontrei vazio e silêncio. E um pedido de ajuda. Seria útil dizer que é inevitável sentir dor, se decepcionar, cair ao tentar bater asas? Seria confortante mostrar-lhe que o medo não existe? Que ele só acontece?

Eu também não sei. Mas suponho que eu posso entendê-lo porque também tenho medo que paralisa, medo do fim e medo de sentir medo...

4 comentários:

  1. Maninha querida, mais uma vez você está de parabéns pelas breves e excelentes linhas com que presenteia os seus leitores assíduos, dentre os quais, por óbvio, eu me incluo!

    Coincidência, ou não, estava a ler o mais novo livro do Max Lucado, cujo título é "Sem Medo de Viver" (detalhe: meu livro é autografado!). Nele, meu autor predileto nos fala que o nosso primeiro ato de liberdade consiste em silenciar o lembrete de escravidão que o medo nos traz!

    A verdade é que o medo, mais cedo ou mais tarde, sempre vai bater à nossa porta.
    Tememos a incerteza do futuro, a velhice, as doenças, as guerras, a violência que nos rodeia, a solidão... Enfim, o medo é inerente ao ser humano e, em certos momentos, tal sentimento serve para nos proteger, pois quando nos sentimos em perigo é justamente o medo que nos faz recuar e pensar no que fazer.

    No entanto, temos que ter em mente que o medo é passageiro e, portanto, quando o medo bate a nossa porta, podemos escolher recusar sua entrada e impedir, desse modo, que faça morada permanente em nosso ser, saqueando a nossa paz, usurpando os nossos sonhos e engessando a nossa alma.

    Recusar a entrada do medo é questão de fé, lembra Max. Afinal, fé e medo são sentimentos opostos. Ou estamos na fé, ou estamos com medo. É impossível a coexistência de ambos em nossos corações.

    Assim, se o medo lhe paralisa, embora seja desconfortável, puxe as cortinas da alma e exponha cada um dos seus temores, examinando-os à luz da fé!
    Sim, a fé nos ajuda a lidar com os medos, principalmente quando, crendo no amor de Cristo, esforçamo-nos em superá-los, tomando consciência de que somos nós quem comandamos nossos sentimentos, e não o contrário.

    Em resumo, vencer o medo é questão de fé.
    E como bem lembra Paulo, em sua carta aos Hebreus, sem fé é impossível agradar a Deus, porque é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que Ele existe e que recompensa aqueles que o buscam!

    Beijo no coração!

    Em tempo, "O Grito", uma das obras mais famosas de Van Gogh, que ora ilustra o seu texto, representa o medo intolerável de perder a razão.

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  2. Oi Juliana,

    descobri o seu blog através do orkut, fico feliz em te ver fazendo algo que tenho vontade mas ainda não tive coragem. Confesso aqui o medo de expor minhas idéias, medo de criticas talvez, medo de mostrar as fragilidades, medo de ficar suscetível ao desconhecido... e muitos outros.
    Acho o medo saudável enquanto não vira pânico. Vivemos em um contexto onde "heróis" são convocados para uma luta sem fim onde poucos conhecem os motivos da batalha só sabem que é preciso continuar lutando, brandindo a espada sem saber para qual direção. E como o herói é sinônimo de coragem, esse contexto não tem lugar para covardes, a batalha termina quando as forças se esgotam e ninguém é vencedor pois sempre tem algo a mais para se fazer e conquistar.
    Prefiro pensar que até os heróis mitológicos tiveram seus momentos de medo, de covardia e de sentimentos pouco dignos, poucos cumpriram sua missão sem precisar de auxilio e tudo isso foi parte de um processo de construção do caminho e de um jeito de caminhar próprio, singular.
    Entendo o medo saudável como um momento de reflexão algo não de paralisia, mas aquela hora de parar, analisar o que está acontecendo e pensar em nova estratégia para seguir em frente ou tomar outra direção. O medo pode ser um analisador de algo maior, assim como todas as emoções do ser humano têm algum significado, apesar de alguns médicos insistirem em as classificar como síndromes.
    Bom, agora vêm o medo de ter colocado algum comentário sem sentido no seu blog, mas se hoje não faz sentido talvez amanhã eu amadureça a idéia. O importante é manter aberta a comunicação.
    Lembrei dos tempos de faculdade, talvez pelas viagens a que éramos mais suscetíveis na época e sem muita preocupação em fazer sentido apesar da vontade em o fazer.

    Grande Abraço,

    Taís Pacheco

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  3. Taís,
    viva a liberdade da expressão sem medo!
    :)
    Abraço forte!

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  4. O post ficou lindo. Só tenho isso a dizer.
    :)

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