
Eu tenho um sapato de cor roxa. É deveras um calçado confortável que me acompanha há mais de um ano, principalmente quando vou ao trabalho.
Hoje, choveu. Aliás, ainda está chovendo aquela chuvinha incessante que te dá vontade de dormir até cansar... Chuvinha que me fez estrear sombrinha (descartável) comprada na Casa & Vídeo.
Quando cheguei ao meu lar (é tão aconchegante que me recuso a chamar simplesmente de “minha casa”), constatei meus pés molhados e manchados. Manchados de roxo. Sim, meu sapatinho – já velho – resolveu desbotar e me deixar marcas nos dedos e no calcanhar direito.
Foi aí que pensei: coisas velhas podem (ainda) nos marcar. Coisas usadas podem (ainda) gerar surpresas. E estendo isso pro humano e sua forma de se relacionar com outros humanos. Eu acredito que amizades antigas, amores gastos pelo tempo e qualquer outro tipo de relacionamento semi-eternizado pode marcar e surpreender.
Como ? Reinventando-se. Pessoas se reinventam. E isso nos salva do marasmo existencial. O humano é múltiplo em possibilidades e isso o torna uma potência na mão do legado divino mais contestado: o legado da nossa liberdade de escolha. Reinventar-se é investir nessa liberdade e aceitar a responsabilidade de que cada escolha deixa marcas. E surpresas também.